quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PAINÉIS DE SÃO VICENTE, A QUESTÃO

I – INTRODUÇÃO


No âmbito da Unidade Curricular de História da Cultura Portuguesa, este trabalho serviu de pretexto para um contacto mais directo com uma das mais importantes e célebres pinturas da Europa quatrocentista, que consiste no conjunto de seis tábuas, desco­bertas ocasionalmente em finais do século passado e a que se convencionou designar como “OS PAINÉIS”.
A minha curiosidade e interesse não foram então muito estimulados pela consulta de obras gerais, pecando estas pela excessiva generalização do tema, quase restringindo o inte­resse dos painéis ao grande valor da sua originalidade en­quanto pintura e ao forte cunho psicológico do tratamento das figuras. Sobre o eventual pintor, não eram feitas mais do que algumas achegas, muito insuficientes e superficiais.
Mas, desde que iniciei a pesquisa, depa­rei ainda com um aspecto: vastas e constantes referências bibliográficas a um outro título que, a meu ver estranhamente, ocupava um lugar de maior relevo: a ques­tão dos Painéis.
E sem querer, estava a pesquisar um tema que não era já o estudo dos painéis de S. Vicente de Fora, mas do que à sua volta se enredou num intrincado nó de proble­mas e questiúnculas sucessivas. Do interesse imediato e da curiosidade inusitada, despertos pelos Painéis, logo após a sua descoberta, muito rapidamente se passara a uma série infindável de polémicas, algumas delas grotescas e risíveis.
 “À margem dos painéis, a questão opôs, aqui e ali, a sen­sibilidade de uns contra a (quantas vezes pretensa) erudição de outros, permeando as discussões com um espírito quezilento e abrindo — muito raramente — as portas a uma con­jugação de esforços por parte dos variadíssimos interve­nientes.
Desde que abandonaram S. Vicente de Fora, os painéis serviram de pretexto às mais fantasiosas interpretações, ao sabor de cada participante numa questão que, entre outras vicissitudes, pululou em congressos de história de arte, ao mesmo tempo que era noticiada, a guisa de mistério policial, nas páginas dos jornais; ora se apresentou como recheio de luxuosas publicações, como logo se apressava a baixar ao despretensiosíssimo do simples opúsculo; ou, ainda, serviu de temática a discussões acaloradas entre académicos, como, por outro lado, fez soltar as risadas de quem lia as páginas humo­rísticas de alguns periódicos.
Mas, no fundo, o que foi a questão dos painéis? Como e porque começou? A quem interessava (e interessará ainda)? …
…Na consideração de algumas etapas deste percurso — marcado à partida pela identificação da suposta figura do Infante D. Henrique e pela interpretação de um texto de Fran­cisco de Holanda — alongado desde 1895 à actualidade, encon­traremos, por certo, resposta para algumas destas questões.
Outras ficam aguardando uma análise sociológica da questão, ainda por fazer, e hoje tão necessária e reclamada quanto um estudo sério (contemplando também um exame científico) sobre os painéis.”[1] .
Não queria deixar de mencionar um trecho escrito por Jacques Le Goff, pois julgo que se enquadra muito bem no seio das polémicas sobre os Painéis: “A história deve utilizar todas as provas que tem à mão, tirando de cada tipo de provas o contributo específico que podem dar e estabelecendo uma hierarquia entre elas, mas não com base nas predilecções próprias do historiador e sim no sistema de valores do período estudado” [2]


[1] FREITAS, Paula e Gonçalves, Maria de Jesus – Painéis de S. Vivente. Uma questão inútil ?, p. 14
[2] LE GOFF , Jacques – O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval, p. 231

2 comentários:

  1. Bom dia
    Verifico que tem um ponto de vista sobre este assunto. Neste sentido dou-lhe conhecimento da publicação do nosso livro "Os Painéis em Memória do Infante D. Pedro" que se encontra disponível em www.bubok.pt (pesquisar por “painéis”).

    Defendemos nesta obra que os Painéis de S. Vicente de Fora foram executados em memória do infante D. Pedro, cuja imagem tinha sido denegrida pelos seus opositores logo a seguir à subida ao poder de D. Afonso V. Reflecte também o perdão mais tarde concedido por este rei aos partidários e familiares do antigo regente de Portugal falecido na batalha de Alfarrobeira

    O facto de termos identificado uma série de indícios e pistas relacionados o Infante D. Pedro levou-nos a esta conclusão. Vejamos alguns:

    •O “judeu” onde visualizamos um doutor em leis, beneditino, oriundo da Borgonha que só pode ser Jean Juffroy embaixador enviado pela duquesa D. Isabel com a missão, entre outras, de protestar contra o enterro vergonhoso dado ao corpo de D. Pedro, após o seu falecimento na batalha de Alfarrobeira. Chama-se a ainda atenção para o pormenor do indicador direito daquela personagem estar a apontar precisamente para o seu nome (em latim) no livro “ilegível”. A presença desta figura prova que os Painéis são uma evocação de D. Pedro, não havendo outra justificação para esta personagem estar ali.

    •O caixão e o peregrino formam um conjunto cuja leitura nos conduziu também ao Infante: um caixão aberto a significar que apesar dos sucessivos enterros dos seus restos mortais, todos estes foram em vão; um peregrino idoso a simbolizar os anos e as viagens feitos pelos ossos de D. Pedro.

    •A decifração no livro aberto do painel do Infante de uma pergunta “quem é o pai?” e a respectiva resposta “o pai…está à direita”, isto é, está a dar indicações ao observador da pintura onde se encontra o pai da rainha D. Isabel (a jovem), que localizamos na personagem com um joelho no chão do painel do Arcebispo.

    •Uma proposta, praticamente inédita, para a figura santificada baseada nas cenas e interações que vemos nos painéis centrais

    •E outros mais onde se incluem identificações para os seus familiares e apoiantes mais próximos.

    A publicação deste trabalho visa contribuir e abrir novas pistas de investigação, de modo a se poder descortinar um pouco mais o mistério que envolve os Painéis de S. Vicente de Fora.

    Cumprimentos

    Clemente
    (www.clemente-baeta.blogspot.com)

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  2. Boa tarde

    Temos o prazer de vos indicar o link onde poderão descarregar gratuitamente o ebook que inclui o meu estudo sobre os Painéis:

    http://www.bubok.pt/livros/6423/Os_Paineis_em_Memoria_do_Infante_D_Pedro_Um_Estudo

    Clemente Baeta

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