quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PAINÉIS DE SÃO VICENTE, A QUESTÃO

III – CONCLUSÃO


Serão os Painéis uma charada intencional? Não apresento qualquer solução. Não será o que mais importa. O que importa é que qualquer discussão sobre os verdadeiros painéis refira o que lá está, em vez de os trocar pelas versões inócuas ou involuntariamente falseadas que permitem discutir uma pintura de olhos fechados ou na ausência da mesma. Uma charada é, por definição, um problema cujos dados contêm de modo intencionalmente disfarçado todos os elementos necessários à sua resolução. Reforço, ainda, uma questão que me intrigou: parece que no painel do príncipe é possível identificar Nuno Gonçalves, que será o único figurante que fixa de frente quem observa os painéis. Mera coincidência (será um auto retrato, pintado com a ajuda de um espelho)? Julgo que não. Será mais uma pista da charada.
Além de uma charada, parece-me ser uma obra dum génio da arte. E apesar de todas as polémicas, é, na minha opinião, uma obra que merece outro tipo de “tratamento colectivo”, uma congregação de esforços dos especialistas, com a intenção de a preservar e decifrar uma panaceia de enigmas que subsistem. Mas, sem dramas.
Eu diria que o maior sentido dos painéis reside na criação de um panorama social e cultural, através das figuras, gentes do seu tempo, como clérigos, cavaleiros, navegadores, pescadores, mercadores e intelectuais, empenhados, juntamente com a família real, numa tarefa concreta e árdua –a expansão oceânica. E, atendendo à religiosidade da época e ao período conturbado que a Ínclita Geração atravessou (várias mortes precoces, Alfarrobeira – que terá originado grandes fracturas de opiniões, tanto em Portugal como nos reinos europeus), com especial ênfase no “desastre” do norte de África (em que, paradoxalmente ou não, o mentor e maior responsável pela NOSSA mais extraordinária e reconhecida epopeia colectiva, não fez justiça à fama que tinha), que provocou enormes sequelas e duas delas (os remorsos do Infante D. Henrique, que seria a pessoa mais admirada do reino e a forma, direi, deprimente e inexplicável, de como Portugal não resolveu o cativeiro do Infante D. Fernando) poderão ter criado o ambiente e a oportunidade para homenagear o Infante Santo, reunindo numa obra, todas as classes do País…e, por isto, eu acredito (racionalmente e sem polémica), na tese fernandina.
Também Dagoberto Markl afirmava: “o motivo que levou à execução do políptico, de acordo com a nossa interpretação, nada tem a ver com a política de D. Pedro; é antes a política de D. Henrique, à qual estão subjacentes, afinal, os remorsos de uma sociedade que tenta, com êxito, resgatar os restos mortais de D. Fernando, vítima de um erro político”.[1]

IV) BIBLIOGRAFIA


TUDELLA, José – Os Painéis de D. Afonso V. Lisboa: Livros Horizonte, 2005
MARKL, Dagoberto – O essencial sobre NUNO GONÇALVES. Lisboa: Impr. Nac.- Casa da Moeda,
1987.
MATA, Joel Silva Mata – Lições de História da Cultura Portuguesa. Lisboa: U. Lusíada, 2009
FIGUEIREDO, José de – O Pintor Nuno Gonçalves. Lisboa: Typ. do Annuario Commercial, 1910
COSTA, Dalila Pereira da – Contemplação dos Painéis. Porto: Lello Editores, 2004
ALMEIDA, Jorge Filipe e ALBUQUERQUE, Maria Manuela Barroso de – Os Painéis de Nuno
Gonçalves. Lisboa: Editorial Verbo, 2003   
FREITAS, Paula e GONÇALVES, Maria de Jesus – Painéis de S. Vicente de Fora Uma questão inútil?
Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1987


[1] MARKL, Dagoberto – O essencial sobre NUNO GONÇALVES p. 15

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